segunda-feira, 27 de março de 2017


Poema ''Sangria''

Sangria

Há sangue nas mãos
da mídia que mascara,
titubeia e manipula.
Há sangue nas mãos
das leis
que prendem o inocente e
liberam o bandido.
Há sangue nas mãos dos pais
que todos os gostos
a seu filho faz.
Não lhes apresentam o "não"
e no final, choram
pelo fato do amorzinho
não saber os limites
do sim e do não.
Há sangue nas mãos
de policias
que pelo do cafezinho
liberam
o que vai matar, estuprar ou roubar
na esquina adiante.
Há sangue nas mãos do preconceituoso
que de forma deleitosa
leva o outro à forca,
todos os dias.
Há sangue nas mãos do médico omisso,
do politico corrupto,
do religioso que mente e
do Brasil que se deita
em berço esplêndido
eternamente...
Há sangue, agonia e caos,
inclusive nas mãos hipócritas que tecem esse poema.
Rejane Aquino

terça-feira, 21 de março de 2017

POEMA DO DIA

Congresso Internacional do Medo



Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo e

 sobre nossos túmulos nascerão flores

amarelas e medrosas.


(Drummond)

sexta-feira, 10 de março de 2017

Poema do dia

Esta Gente



Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 3 de março de 2017

Poema de Romildo Alves para Rejane Aquino

RETRATO (EXCEPCIONAL)


Sim, uma mão
estirada ao longo do percurso.
Não foi por súplica minha,
parelhou-me em um trecho despretensioso
e estendeu-se, ofereceu-se.

Há razões para se aceitar ou recusar,
mas estas não se manifestaram.
Retribui-lhe o gesto
e suspeitei que aquilo poderia ser amizade
palavra, substantivo comum
e tão incomum como a certeza das frutas
na confusão das estações.

O salto:
Não cumprimos protocolos de competidores.
Não há competição entre amigos,
só o desejo de descobrir, somar
e sinonimizar a vida ao que é de fato, vida.

Romildo Alves